domingo, 2 de outubro de 2011

Modernismo

O modernismo no Brasil tem como marco simbólico a Semana de Arte Moderna, realizada em São Paulo, no ano de 1922, considerada um divisor de águas na história da cultura brasileira. O evento - organizado por um grupo de intelectuais e artistas por ocasião do Centenário da Independência - declara o rompimento com o tradicionalismo cultural associado às correntes literárias e artísticas anteriores: o parnasianismo, o simbolismo e a arte academica. A defesa de um novo ponto de vista estético e o compromisso com a independência cultural do país fazem do modernismo sinônimo de "estilo novo", diretamente associado à produção realizada sob a influência de 1922. Heitor Villa-Lobos na música; Mário de Andrade e Oswald de Andrade, na literatura; Victor Brecheret, na escultura; Anita Malfatti e Di Cavalcanti, na pintura, são alguns dos participantes da Semana, realçando sua abrangência e heterogeneidade. Os estudiosos tendem a considerar o período de 1922 a 1930, como a fase em que se evidencia um compromisso primeiro dos artistas com a renovação estética, beneficiada pelo contato estreito com as vanguardas européias (cubismofuturismosurrealismo etc.). Tal esforço de redefinição da linguagem artística se articula a um forte interesse pelas questões nacionais, que ganham acento destacado a partir da década de 1930, quando os ideais de 1922 se difundem e se normalizam. Ainda que o modernismo no Brasil deva ser pensado a partir de suas expressões múltiplas - no Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pernambuco etc. - a Semana de Arte Moderna é um fenômeno eminentemente urbano e paulista, conectado ao crescimento de São Paulo na década de 1920, à industrialização, à migração maciça de estrangeiros e à urbanização.
Apesar da força literária do grupo modernista, as artes plásticas estão na base do movimento. O impulso teria vindo da pintura, da atuação de Di Cavalcanti à frente da organização do evento, das esculturas de Brecheret e, sobretudo, da exposição de Anita Malfatti, em 1917. Os trabalhos de Anita desse período (O Homem Amarelo, a Estudante Russa, A Mulher de Cabelos Verdes, A Índia, A Boba, O Japonês etc.) apresentam um compromisso com os ensinamentos da arte moderna: a pincelada livre, a problematização da relação figura/fundo, o trato da luz sem o convencional claro-escuro. A obra de Di Cavalcanti segue outra direção. Autodidata, Di Cavalcanti trabalha como ilustrador e caricaturista. O traço simples e estilizado se tornará a marca de sua linguagem gráfica. A pintura, iniciada em 1917, não apresenta orientação definida. Suas obras revelam certo ecletismo, alternando o tom romântico e "penumbrista" (Boêmios, 1921) com as inspirações em Pablo Picasso, Georges Braque e Paul Cézanne, que o levam à geometrização da forma e à exploração da cor (Samba e Modelo no Atelier, ambas de 1925). Os contrastes cromáticos e os elementos ornamentais da pintura de Henri Matisse, por sua vez, estão na raiz de trabalhos como Mulher e Paisagem, 1931. A formação italiana e a experiência francesa marcam as esculturas de Brecheret. Autor da maquete doMonumento às Bandeiras, 1920, e de 12 peças expostas na Semana (entre elas, Cabeça de Cristo, Daisy e Torso), Brecheret é o escultor do grupo modernista, comparado aos escultores franceses Auguste Rodin e Emile Antoine Bourdelle pelos críticos da época.
Tarsila do Amaral não esteve presente ao evento de 1922, o que não tira o seu lugar de grande expoente do modernismo brasileiro. Associando a experiência francesa - e o aprendizado com André Lhote, Albert Gleizes e Fernand Léger - aos temas nacionais, a pintora produz uma obra emblemática das preocupações do grupo modernista. Da pintura francesa, especialmente das "paisagens animadas" de Léger, Tarsila retira a imagem da máquina como ícone da sociedade industrial e moderna. As engrenagens produzem efeito estético preciso, fornecendo uma linguagem aos trabalhos: seus contornos, cores e planos modulados introduzem movimento às telas, como em E.F.C.B., 1924 e A Gare,1925. A essa primeira fase "pau-brasil", caracterizada pelas paisagens nativas e figurações líricas, segue-se um curto período antropofágico, 1927-1929, que eclode comAbaporu, 1928. A redução de cores e de elementos, as imagens oníricas e a atmosfera surrealista (por exemplo, Urutu, O Touro e O Sono, de 1928) marcam os traços essenciais desse momento. A viagem à URSS, em 1931, está na origem de uma guinada social na obra de Tarsila (Operários, 1933), que coincide com a inflexão nacionalista do período, exemplarmente representada por Candido Portinari. Portinari pode ser tomado como expressão típica do modernismo de 1930. À pesquisa de temas nacionais e ao forte acento social e político dos trabalhos associam-se o cubismo de Picasso, o muralismomexicano e a Escola de Paris (entre outros, Mestiço, 1934, Mulher com Criança, 1938 e O Lavrador de Café, 1939). Lasar Segall, formado no léxico expressionista alemão, aproxima-se dos modernistas em 1923, quando se instala no país. Parte de sua obra, ampla e diversificada, registra a paisagem e as figuras locais em sintonia com as preocupações modernistas (Mulato 1, 1924, O Bebedouro e Bananal, 1927).
Ainda que o termo modernismo remeta diretamente à produção realizada sob a égide de 1922 - na qual se incluem também os nomes de Vicente do Rego MonteiroAntonio GomideJohn Graz e Zina Aita - a produção moderna no país deve ser pensada em chave ampliada, incluindo obras anteriores à década de 1920 - as de Eliseu Visconti eCastagneto, por exemplo -, e pesquisas que passaram ao largo da Semana de Arte Moderna, como as dos artistas ligados ao Grupo Santa Helena (Francisco ReboloAlfredo VolpiClóvis Graciano etc.).

Simbolismo


A publicação de Broquéis e Missal (1893), de João da Cruz e Souza, inaugura este movimento, que se caracteriza por melancolia, gosto dos ritmos fluidos e musicais, incluindo o uso de versos livres; uso de imagens incomuns e ousadas. O cuidado na evocação das cores e de seus múltiplos matizes mostra, também, uma influência do Impressionismo.
Alphonsus de Guimaraens (Câmara ardente) é um outro grande nome desse período. O simbolista tardio Guilherme de Almeida (Eu e você) funciona como uma ponte entre essa fase e o pré-modernismo. Uma figura isolada é Augusto dos Anjos (Eu e outras poesias), fascinado pelo vocabulário e os conceitos da ciência e da filosofia, que faz uma poesia de reflexão metafísica e de denúncia da injustiça social.
João da Cruz e Souza (1861-1898), filho de escravos libertos, luta pelo abolicionismo e contra o preconceito racial. Muda-se de Santa Catarina para o Rio de Janeiro, onde trabalha na Estrada de Ferro Central e colabora no jornal Folha Popular. A sua poesia é marcada pela sublimação do amor e pelo sofrimento vindo do racismo, da pobreza, da doença. Renova a poesia no Brasil com Broquéis e Missal. Em Últimos sonetos trata a morte como a única forma de alcançar a liberação dos sentidos.

TEATRO

A exemplo do realismo, tem seu auge durante a segunda metade do século XIX. Além de rejeitarem os excessos românticos, os simbolistas negam também a reprodução fotográfica dos realistas. Preferem retratar o mundo de modo subjetivo, sugerindo mais do que descrevendo. Para eles, motivações, conflitos, caracterização psicológica e coerência na progressão dramática têm importância relativa.
Autores simbolistas – Os personagens do Pelleas e Melisande, do belga Maurice Maeterlinck, por exemplo, são mais a materialização de idéias abstratas do que seres humanos reais. Escritores como Ibsen, Strindberg, Hauptmann e Yeats, que começam como realistas, evoluem, no fim da carreira, para o simbolismo. Além deles, destacam-se o italiano Gabriele d'Annunzio (A filha de Iorio), o austríaco Hugo von Hofmannsthal (A torre) e o russo Leonid Andreiev (A vida humana).
Auguste Strindberg (1849-1912) nasce em Estocolmo, Suécia, e é educado de maneira puritana. Sua vida pessoal é atormentada. Divorcia-se três vezes e convive com freqüentes crises de esquizofrenia. Strindberg mostra em suas peças – como O pai ou A defesa de um louco – um grande antagonismo em relação às mulheres. Em Para Damasco cria uma obra expressionista que vai influenciar diversos dramaturgos alemães.
Espaço cênico simbolista – Os alemães Erwin Piscator e Max Reinhardt e o francês Aurélien Lugné-Poe recorrem ao palco giratório ou desmembrado em vários níveis, à projeção de slides e títulos explicativos, à utilização de rampas laterais para ampliar a cena ou de plataformas colocadas no meio da platéia. O britânico Edward Gordon Craig revoluciona a iluminação usando, pela primeira vez, a luz elétrica; e o suíço Adolphe Appia reforma o espaço cênico criando cenários monumentais e estilizados.
Fonte: www.conhecimentosgerais.com.br
Simbolismo

CONTEXTO

Simbolismo - que também foi chamado de Decadentismo, Impressionismo, Nefelibatismo - surgiu na França, por volta de 1880, e de lá difundiu-se internacionalmente, abrangendo vários ramos artísticos, principalmente a poesia. O período era de profundas modificações sociais e políticas, provocadas fundamentalmente pela expansão do capitalismo, na esteira da industrialização crescente, e que convergiram para, dentre outras conseqüências, a I Guerra Mundial. Na Europa haviam germinado idéias científico-filosóficas e materialistas que procuravam analisar racionalmente a realidade e assim apreender as novas transformações; essas idéias, principalmente as do positivismo, influenciaram movimentos literários como o Realismo e o Naturalismo, na prosa, e o Parnasianismo, na poesia.
No entanto, os triunfos materialistas e científicos não eram compartilhados ou aceitos por muitos estratos sociais, que haviam ficado ao largo da prosperidade burguesa característica da chamada "belle époque"; pelo contrário, esses grupos alertavam para o mal-estar espiritual trazido pelo capitalismo. Assim, como afirmou Alfredo Bosi, "do âmago da inteligência européia surge uma oposição vigorosa ao triunfo da coisa e do fato sobre o sujeito - aquele a quem o otimismo do século prometera o paraíso mas não dera senão um purgatório de contrastes e frustrações". A partir dessa oposição, no campo da poesia, formou-se o Simbolismo.
O movimento simbolista tomou corpo no Brasil na década de 1890, quando o país passava também por intensas e radicais transformações, ainda que diversas daquelas vivenciadas na Europa. O advento da República e a abolição da escravatura modificaram as estruturas políticas e econômicas que haviam sustentado a agrária e aristocrática sociedade brasileira do Império. Os primeiros anos do regime republicano, de grande instabilidade política, foram marcados pela entrada em massa de imigrantes no país, pela urbanização dos grandes centros - principalmente de São Paulo, que começou a crescer em ritmo acelerado -, e pelo incremento da indústria nacional.
Nas cidades, a classe média se expandiu, enquanto a operária começou a tornar-se numerosa. No campo, aumentaram as pequenas propriedades produtivas e o colonato. A jovem república federativa, que ainda definia os limites de seu território, conheceu a riqueza efêmera da borracha na Amazônia e a prosperidade trazida pela diversificação da produção agrícola no Rio Grande do Sul. Mas era o café produzido no Centro-Sul a força motriz da economia brasileira, e de seus lucros alimentou-se a poderosa burguesia que determinava o destino de grande parte dos projetos políticos, financeiros e culturais do país.
No Brasil ainda sustentado pela agricultura e dependente de importações de produtos manufaturados, máquinas e equipamentos, a indústria editorial engatinhava. O público leitor era reduzido, já que a maior parte da população era analfabeta. As poucas editoras existentes concentravam-se no Rio de Janeiro e lançavam autores de preferência já conhecidos do público, em tiragens pequenas, impressas em Portugal ou na França, e mal distribuídas. Era principalmente nas páginas de periódicos que circulavam as obras literárias, e onde se debatiam os novos movimentos estéticos que agitavam os meios artísticos. Foi por meio do jornal carioca Folha Popular que formou-se o grupo simbolista liderado por Cruz e Souza, provavelmente o mais importante a divulgar a nova estética no país.
Também por força dessas circunstâncias, muitos autores do período colaboraram como cronistas para jornais e revistas, atividade que contribuiu para a profissionalização do escritor brasileiro. Raul Pompéia, ficcionista ligado ao Realismo, foi um deles, e abordou importantes acontecimentos e debates da época em suas crônicas, como a questão do Voto Feminino e Voto Estudantil ou os problemas da Viação Urbana. Além dos periódicos, as conferências literárias eram outra fonte de renda e de divulgação para os autores brasileiros, que também costumavam freqüentar salões artísticos promovidos por membros da elite, como a Vila Kyrial de José de Freitas Vale, senador, mecenas e autor de versos simbolistas que posteriormente patroneou autores modernistas.
Os simbolistas contribuíram muito para a evolução do mercado de periódicos, pois lançaram grande número de revistas, em vários estados brasileiros. Ainda que os títulos durassem, na maioria das vezes, apenas alguns números, o que é também indicativo da fragilidade do mercado editorial e da cena literária, representaram grande avanço no setor, notavelmente pelo apuro gráfico. Dentre os periódicos simbolistas destacam-se as cariocas Rio-Revista e Rosa-Cruz, as paranaenses Clube Curitibano e O Cenáculo, as mineiras Horus e A Época, a cearense A Padaria Espiritual, a baiana Nova Cruzada, entre muitas outras. No começo do século XX, foram publicadas revistas que ficariam famosas pela qualidade editorial e gráfica, como Kosmos e Fon-Fon!. As inovações formais e tipográficas praticadas pelos simbolistas, como os poemas figurativos, as páginas coloridas, os livros-estojo exigiam grande requinte técnico e, por conseqüência, terminaram por ajudar a melhorar a qualidade da indústria gráfica no país.

CARACTERÍSTICAS GERAIS

Os poetas simbolistas acreditavam que a realidade é complexa demais pra ser apreendida e descrita de maneira objetiva e racional, como pretendiam os realistas e parnasianos. Eles voltaram-se para o universo interior e os aspectos não-racionais e não-lógicos da vida, como o sonho, o misticismo, o transcendental. Propunham o exercício da subjetividade contra a objetividade - retomando, de modo diferente, o individualismo romântico.
É preciso diferenciar, todavia, poesia simbolista de poesia simbólica. Como afirma o crítico Afrânio Coutinho, "nem toda literatura que usa o símbolo é simbolista. A poesia universal é toda ela na essência simbólica".
Simbolismo, para Coutinho, "posto não constituísse uma unidade de métodos, antes de ideais, procurou instalar um credo estético baseado no subjetivo, no pessoal, na sugestão e no vago, no misterioso e ilógico, na expressão indireta e simbólica. Como pregava Mallarmé, não se devia dar nome ao objeto, nem mostrá-lo diretamente, mas sugeri-lo, evocá-lo pouco a pouco, processo encantatório que caracteriza o símbolo."
No Brasil, onde o Parnasianismo dominava o cenário poético, a estética simbolista encontrou resistências, mas animou a criação de obras inovadoras. Desde o final da década de 1880 as obras de simbolistas franceses, entre eles Baudelaire e Mallarmé, e portugueses, como Antonio Nobre e Camilo Pessanha, vinham influenciando grupos como aquele que se formou em torno da Folha Popular, no Rio, liderado por Cruz e Souza e integrado por Emiliano Perneta, B. Lopes e Oscar Rosas. Mas foi com a publicação, em 1893, de Missal, livro de poemas em prosa, e Broquéis, poemas em versos, ambos de Cruz e Souza, que principiou de fato o movimento simbolista no país - embora a importância desses livros e do próprio movimento só tenha sido reconhecida bem mais tarde, com as vanguardas modernistas.
Entre as inovações formais que caracterizam o Simbolismo estão a prática do verso livre, em oposição ao rigor do verso parnasiano, e o uso de "uma linguagem ornada, colorida, exótica, poética, em que as palavras são escolhidas pela sonoridade, ritmo, colorido, fazendo-se arranjos artificiais de parte ou detalhes para criar impressões sensíveis, sugerindo antes que descrevendo e explicando", de acordo com Afrânio Coutinho.
Traços formais característicos do Simbolismo são a musicalidade, a sensorialidade, a sinestesia (superposição de impressões sensoriais). O antológico poema Antífona, de Cruz e Souza, é exemplar nesse sentido; sugestões de perfumes, cores, músicas perpassam todo o poema, cuja linguagem vaga e fluida é plena de recursos sonoros como aliterações e assonâncias. Há também em Antífona referências a elementos místicos, ao sonho, a mistérios, ao amor erótico, à morte, os grandes temas simbolistas.
Ainda com relação à forma, o soneto foi cultivado pelos simbolistas, mas não com a predileção manifestada pelos parnasianos, nem com sua paixão descritiva. Em sonetos como Incenso, de Gilka Machado, e Acrobata da Dor, de Cruz e Souza, está presente a linguagem que sugere, em lugar de nomear ou descrever, além de elementos como o questionamento da razão, a dor da existência, o interesse pelo mistério, a transcendência espiritual, que são característicos do Simbolismo. Lembre-se a propósito, também, do poema O Soneto, de Cruz e Souza, em que a linguagem poética simbolista transfigura e recria a forma da composição soneto.
É importante lembrar que as correntes simbolistas e parnasianas coexistiram e se influenciaram mutuamente; assim, há na obra de adeptos do Simbolismo traços da estética parnasiana e, do mesmo modo, impregnações simbolistas na obra de poetas ligados ao Parnasianismo, como Francisca Júlia.
Simbolismo e o Parnasianismo, segundo José Aderaldo Castello, projetaram-se nas primeiras décadas do século XX, "deixando importante legado para herdeiros que se fariam grandes poetas do Modernismo". O Simbolismo, porém, "mais do que os adeptos da poesia ‘científico-filosófica’ e realista, provocou o debate, aguçando o confronto de gerações."
Os principais autores simbolistas brasileiros são Cruz e Souza e Alphonsus de Guimaraens, mas merecem destaque também Gilka Machado e Augusto dos Anjos.
Cruz e Souza é considerado o maior poeta simbolista brasileiro, e foi mesmo apontado pelo estudioso Roger Bastide como dos maiores poetas do Simbolismo no mundo. Para a crítica Luciana Stegagno-Picchio, "ao firme, sapiente universo do parnasiano, à estátua, ao mármore, mas também ao polido distanciamento e ao sorriso, o simbolista Cruz e Souza contrapõe seu universo sinuoso, mal seguro, inquietante, misterioso, alucinante". Negro, o poeta sofreu preconceitos terríveis, que marcaram de diversos modos sua produção poética. Os críticos costumam indicar a "obsessão" pela cor branca em seus versos, repletos de brumas, pratas, marfins, linhos, luares, e de adjetivos como alva, branca, clara. Mas Cruz e Souza também expressou as dores e injustiças da escravidão em poemas como Crianças Negras e Na Senzala.
A obra de Alphonsus de Guimaraens é fundamentada pelos temas do misticismo, do amor e da morte. Em poemas como A Catedral e A Passiflora, repletos de referências católicas, a religiosidade é o assunto principal. O poeta também voltou-se para outro tema caro aos simbolistas, o interesse pelo inconsciente e pelas zonas profundas e desconhecidas da mente humana. Ismália, talvez seu poema mais conhecido, tematiza justamente a loucura. O amor, em sua poesia, é o amor perdido, inatingível, pranteado, como em Noiva e Salmos da Noite; reminiscências da morte prematura da mulher que amou na juventude.
Gilka Machado "foi a maior figura feminina de nosso Simbolismo", segundo o crítico Péricles Eugênio da Silva Ramos. Seus poemas, de intenso sensualismo, chegaram a causar escândalo, mas revelaram novas maneiras de expressar o erotismo feminino. Emiliano Perneta também imprimiu forte sensualismo em seus versos, característicos além disso pelo satanismo e decadentismo.
Sua poesia, para Andrade Muricy, é "a mais desconcertante e variada que o simbolismo produziu entre nós". Já a obra de Augusto dos Anjos - extremamente popular, diga-se de passagem - é única, e há grande dificuldade entre a crítica para classificá-la. Seus poemas, que chegam a ser expressionistas, recorrem a uma linguagem cientifista-naturalista, abundante de termos técnicos, para tematizar a morte, a destruição, o pessimismo e mesmo o asco diante da vida.
Referências
ARGAN, Giulio Carlo. Arte moderna: do iluminismo aos movimentos contemporâneos. Tradução Denise Bottmann, Frederico Carotti; prefácio Rodrigo Naves. São Paulo: Companhia das Letras, 1993. xxiv, 709 p., il. color.
BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 3.ed. São Paulo: Cultrix, 1997. 582pp.
CHALVERS, Ian. Dicionário Oxford de Arte. Tradução Marcelo Brandão Cipolla. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001. 584 p.
LAGARDE, André & MICHARD, Laurent. XIXème siècle. Paris, Bordas, 1985, 578 pp. il. p&b. color. (Collection littéraire Lagarde et Michard)
LA NUOVA ENCICLOPEDIA DELL'ARTE GARZANTI. MILÃO: Garzanti Editore, 1986. 1112p. il. p&b, color.
Fonte: www.itaucultural.org.br

Naturalismo

O Naturalismo foi um movimento cultural relacionado às artes plásticas, literatura e teatro. Surgiu na França, na segunda metade do século XIX. Este movimento foi uma radicalização do Realismo.

Características do Naturalismo

- O mundo pode ser explicado através das forças da natureza;
- O ser humano está condicionado às suas características biológicas (hereditariedade) e ao meio social em que vive;
- Forte influência do evolucionismo de Charles Darwin;
- A realidade é mostrada através de uma forma científica (influência do positivismo);
- Nas artes plásticas, por exemplo, os pintores enfatizam cenas do mundo real em suas obras. Pitavam aquilo que observavam;
- Na literatura, ocorre muito o uso de descrições de ambientes e de pessoas;
- Ainda na literatura, a linguagem é coloquial;
- Os principais temas abordados nas obras literárias naturalistas são: desejos humanos, instintos, loucura, violência, traição, miséria, exploração social, etc.

Naturalismo francês

Emile Zola é considerado o idealizador e maior representante da literatura naturalista mundial. Foi muito influenciado pelo evolucionismo e pelosocialismo. Sua principal obra foi O Germinal (1885), onde aborda a realidade social nas minas de extração de carvão. Para escrever esta obra, Zola viveu com uma família de mineiros para sentir na pele a dura vida destes trabalhadores. 

Naturalismo no Brasil

Este movimento chegou ao Brasil no final do século XIX. Os escritores brasileiros abordaram a realidade social brasileira, destacando a vida nos corticos, o preconceito, a diferenciação social, entre outros temas. O principal representante do naturalismo na literatura brasileira foi Aluísio de Azevedo. Suas principais obras foram: O Mulato, Casa de Pensão e O Cortiço. Outros escritores brasileiros que merecem destaque: Adolfo Caminha, Inglês de Souza e Raul Pompéia.

Realismo

O realismo foi um movimento artístico e cultural que se desenvolveu na segunda metade do século XIX. A característica principal deste movimento foi a abordagem de temas sociais e um tratamento objetivo da realidade do ser humano.
Possuía um forte caráter ideológico, marcado por uma linguagem política e de denúncia dos problemas sociais como, por exemplo, miséria, pobreza, exploração, corrupção entre outros. Com uma linguagem clara, os artistas e escritores realistas iam diretamente ao foco da questão, reagindo, desta forma, ao subjetivismo do romantismo. Uma das correntes do realismo foi o naturalismo, onde a objetividade está presente, porém sem o conteúdo ideológico.
O Realismo nas Artes Plásticas
O realismo manifestou-se principalmente na pintura, onde as obras retratavam cenas do cotidiano das camadas mais pobres da sociedade. O sentimento de tristeza expressa-se claramente através das cores fortes. Um dos principais pintores realistas foi o francês Gustave Coubert. Com obras que chocaram o público pelo alto grau de realismo e pelos temas sociais, este artista destacou-se com as seguintes telas : Os Quebradores de Pedras e Enterro em Ornans. Outros importantes pintores deste período foram: Honoré Daumier, Jean-François Millet e Édouard Manet.
Literatura Realista
Nas obras em prosa, o realismo atingiu seu ápice na literatura. Os romances realistas são de caráter social e psicológico, abordando temas polêmicos para a sociedade da segunda metade do século XIX. As instituições sociais são criticadas, assim como a Igreja Católica e a burguesia. Nas obras literárias deste período, os escritores também criticavam o preconceito, a intolerância e a exploração. Sempre utilizando uma linguagem direta e objetiva.
Podemos citar como importantes obras da passagem do romantismo para o realismo: Comédia Humana de Honoré de Balzac, O Vermelho e o Negro de Stendhal, Carmen de Prosper Merimée e Almas Mortas de Nikolai Gogol.
Porém, a obra que marca o início do realismo na literatura é a obra Madame Bovary de Gustave Flaubert. Outras importantes obras são : Os Irmãos Karamazov de Fiódor Dostoiévski, Anna Karenina e Guerra e Paz de Leon Tolstói, Oliver Twist de Charles Dickens, Os Maias e Primo Basílio deEça de Queiroz.
Teatro Realista
No teatro realista o herói romântico é trocado por pessoas comuns do cotidiano. Os problemas sociais transformam-se em temas para os dramaturgos realistas. A linguagem sofisticada do romantismo é deixada de lado e entra em cena as palavras comuns do povo. O primeiro representante desta fase é o dramaturgo francês Alexandre Dumas, autor de A Dama das Camélias.
Também podemos destacar outras importantes peças de teatro do realismo como, por exemplo, Ralé e Os Pequenos Burgueses de Gorki,  Os Tecelões de Gerhart Hauptmann e Casa de Bonecas do norueguês Henrik Ibsen.
REALISMO NO BRASIL 
Literatura
Na literatura brasileira o realismo manifestou-se principalmente na prosa.Os romances realistas tornaram-se instrumentos de crítica ao comportamento burguês e às instituições sociais. Muitos escritores românticos começaram a entrar para a literatura realista. Os especialistas em literatura dizem que o marco inicial do movimento no Brasil é a publicação do livro Memórias Póstumas de Brás Cubas de Machado de Assis. Nesta obra, o escritor fluminense faz duras críticas à sociedade da época.
Teatro
As peças retratam a realidade do povo brasileiro, dando destaque para os principais problemas sociais. Os personagens românticos dão espaço para trabalhadores e pessoas simples. Machado de Assis escreve Quase Ministro e José de Alencar destaca-se com O Demônio Familiar. Luxo e Vaidade de Joaquim Manuel de Macedo também merece destaque. Outros escritores e dramaturgos que podemos destacar: Artur de Azevedo, Quintino Bocaiúva e França Júnior.

Romantismo


Romantismo somente foi definido como escola literária nos últimos 25 anos do século XVIII. A Alemanha e a Inglaterra foram pioneiras no romantismo, mas foi a França que divulgou a nova tendência.
Em Portugal, o poema “Camões” de Almeida Garrett foi o marco inicial doRomantismo no país.
O livro de poesias “Suspiros poéticos e saudades” e a revista Niterói são consideradas o marco inicial do Romantismo no Brasil. As duas obras foram lançados no ano de 1836.
O momento histórico em que ocorreu o Romantismo no Brasil, deve ser visto a partir da chegada da família real, em 1808, que leva o Rio de Janeiro a viver um processo de urbanização e intelectualização.
Características do Romantismo
Inicialmente, romântico era tudo aquilo que se opunha a clássico. Ou seja, passa a valorizar o caráter popular, o folclore e o que é nacional. O indivíduo passa a ser o centro das atenções, apelando para a imaginação e para os sentimentos, resultando uma interpretação subjetiva da realidade.
Veja uma tabela abaixo comparando algumas características do Classicismo com o Romantismo.
Classicismo
Romantismo
razão
sensibilidade
elitização
Motivos populares
Imagem racional do amor e da mulher
Imagem sentimental e subjetiva do amor e da mulher
erudição
folclore
paganismo
Cristianismo
Antiguidade clássica
Idade média
Impessoal, objetivo
Pessoal, subjetivo
Disciplina
Libertação
Geral, universal
Particular, individual
Modelo clássico
Não há modelos
Formas poéticas fixas
Versificação livre
Apelo à inteligência
Apelo à imaginação
Gerações românticas no Brasil
O Romantismo pode ser classificado em três gerações no Brasil.
Primeira – geração nacionalista: Exaltação da natureza, criação do herói na figura do índio, sentimentalismo e a religiosidade são algumas das características marcantes da chamada geração indianista. Principais autores: Gonçalves Dias, Gonçalves de Magalhães e Araújo Porto Alegre.
Segunda – geração do mal-do-século: Negativismo, desilusão, tédio e dúvida são características da segunda geração do romantismo. A fuga da realidade é um dos temas preferidos que se manifesta na exaltação da morte e nas virgens sonhadoras. Principais autores: Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Junqueira Freire e Fagundes Varela.
Terceira – geração condoeira: Caracterizada pela poesia social e libertária, reflete as lutas internas da segunda metade do reinado de D. Pedro II. Castro Alves foi seu principal representante.

Arcadismo

Também conhecido por Setecentismo (dos anos 1700), este estilo traduz a busca do natural e do simples com a adoção de esquemas rítmicos mais gracioso. Este movimento traduz a crítica da burguesia culta aos abusos da nobreza e do clero.
A busca do campo pela arte é uma forma de resgate de um bem perdido pelo surgimento das cidades. Assim justifica-se como principal característica o bucolismo, elevando a vida despreocupada e idealizada nos campos.
O mito do homem natural, bom selvagem, do herói pacífico representa certa oposição aos abusos de juízes, políticos e clero. Essa politização do movimento apresenta-se também através dos poetas árcades que eram participantes da Conjuração Mineira.
Poeta mineiro, estudou com os Jesuítas no RJ. Em Roma e ingressou na Arcádia Romana, adotando o pseudônimo de Termindo Sipílio. Escapou de acusações de jesuitismo e do dregredo em Angola, escrevendo elogios ao casamento da filha do Marquês de Pombal. Escreveu, em 1769, O Uraguai, sendo a segunda passagem uma das mais famosas de sua obra: a morte de Lindóia.
 "Na idade que eu, brincando entre os pastores, / Andava pela mão e mal andava, / Uma ninfa comigo então brincava, / Da mesma idade e bela como as flores."
"Açouta o campo coa ligeira cauda / O irado monstro, e em tortuosos giros / Se enrosca no cipreste, e verte envolto / Em negro sangue o lívido veneno. / Leva nos braços a infeliz Lindóia / O desgraçado irmão, que ao despertá-la / Conhece, com que dor! No frio rosto / Os sinais do veneno, e vê ferido / Pelo dente sutil o brando peito."
 
 --O Uraguai
Obras Principais:
  • O Uraguai, 1769
    Inovação no tema contemporâneo para um poema épico: exaltar o Marquês de Pombal e sua política, e criticar os jesuítas. No poema é narrada, apesar de ainda exaltar a natureza (que não chega a ser bucólica) e o bom selvagem (instigados pelos jesuítas espanhóis), a luta de portugueses e espanhóis contra os índios dos Sete Povos das Missões. No drama principal, além dos personagens jesuítas caricaturizados e do herói português que comandou a tomada, os índios Sepé (o famoso Sepé Tiaraju), Cacambo e Lindóia. Sepé morre logo no começo e depois o também guerreiro Cacambo morre. Lindóia, que era sua esposa, fica extremamente deprimida e deixa que uma cobra a pique.
  • Epitalâmio às núpcias da Sra. Da. Maria Amália, 1769
Conhecedor dos princípios iluministas, ocupa, em Vila Rica, o cargo de ouvidor (juiz da época). Envolvido na Inconfidência, é preso em 23/05/1789 e mandado para a prisão no RJ. É deportado para a África em 1792 e lá se casa com uma rica herdeira, recupera fortuna e influências e morre.
Produziu pouco, exceto no curto tempo em que esteve em MG. Apaixonado por Maria Joaquina Dorotéia de Seixas, escreveu Marília de Dirceu em sua homenagem. Ele ia casar-se com ela e partir para a BA assumir um cargo de desembargador, mas foi preso uma semana antes.
Segundo suas poesias ele não participava da Conjuração, apesar de ser amigo de Cláudio Manuel da Costa. Ainda assim, era acusado de ser o mais capaz de dirigir a Inconfidência.
 "Eu vi o meu semblante numa fonte, / Dos anos ainda não está cortado, / Os Pastores, que habitam este monte, / Respeitam o poder de meu cajado." 
 --Marília de Dirceu
 "Assim o nosso chefe não descansa / De fazer, Doroteu, no seu governo, / Asneiras sobre asneiras e, entre as muitas, / Que menos violentas nos parecem, / Pratica outras que excedem muito e muito / As raias dos humanos desconcertos." 
 --Cartas Chilenas
Obras principais:
  • Marília de Dirceu
    Esta é uma obra pré-romântica; o autor idealiza sua amada e supervaloriza o amor, mas é árcade em todas as outras características. É um monólogo de Dirceu em que Marília é um vocativo.
    A primeira de suas três partes é dividida em 33 liras. Nela, o autor canta a beleza de sua "pastora" Marília (na verdade, Maria Dorotéia Joaquina de Seixas). Descreve sempre apenas sua beleza (que compara à de Afrodite) e usa de várias figuras mitológicas. O autor também se dirige a seus amigos "Glauceste" e "Alceu" (Cláudio Manuel da Costa e Alvarenga Peixoto), seus "colegas pastores". O bucolismo nesta parte da obra é extremo, com referências permanentes ao campo e à vida pastoril idealizada pelos árcades. A segunda parte é dividida em 37 liras e foi escrita na prisão, após 1789. Nela o bucolismo é diminuído, mas a adoração a Marília continua, apesar de tratar mais de Dirceu do que da pastora. Nesta parte, existe a angústia da separação e o sentimento de ter sido injuriado, o que aumenta a declarada paixão pela amada. Aparece também a angústia da separação que sofreu de seu amigo "Glauceste" (em regime de incomunicabilidade, não sabia do suicídio de Cláudio Manuel da Costa.). A terceira parte não possui apenas suas 8 liras; tem também sonetos e outras formas de poesia. Mas apenas as 8 liras possuem referências a Marília e quando elas acabam, começam a aparecer outras poesias de "Dirceu".
  • Cartas Chilenas
    São 13 poemas satíricos com estrutura de carta (epístolas) escritos por Critrilo (pseudônimo do autor por muito tempo obscuro). Os desmandos, atos corruptos, nepotismo, abusos de poder, falta de conhecimento e tantos outros erros administrativos, jurídicos e morais são relatados em versos decassílabos do "Fanfarrão Minésio" (o governador de Minas Gerais, Luís Cunha Meneses) no governo do "Chile" (a cidade de Vila Rica).